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Às Mães de Portugal


A melodia desta canção foi escrita quando eu tinha por volta de vinte e poucos anos de idade, fins da década de 60. Não tinha letra. Na época, descobrindo o universo musical, compunha mais para explorar relações melódico-harmônicas, sem preocupações literárias.


Algum tempo depois, comecei por curiosidade a escrever textos para diversas melodias que havia feito. Eram geralmente letras no estilo das canções populares, a maioria em português, mas também com experimentações em inglês e outros idiomas (de uma em italiano ainda guardo o registro).


Para essa melodia a letra foi em inglês e, como todas, sem qualquer intenção nem sequer preocupação literária.


Mais para a frente, cheguei a fazer uma harmonização para piano (na criação original, anotei apenas a melodia e cifrado harmônico).


E a peça ficou guardada num caderno até 2007, quando me pareceu haver um momento propício para ela, ilustrando algumas passagens de uma encenação teatral, ora cantada, ora instrumental. O texto, constante do roteiro da encenação, era uma estrofe do poema Às Mães de Portugal, de Florbela Espanca. Para o solo instrumental, achei que cairia bem um oboé. A harmonização do piano expandi para um conjunto de cordas. O solo instrumental acabou não acontecendo, não houve um momento cênico apropriado. Mas o canto teve o seu momento, com o oboé soando em segundo plano.


Em 2021, lendo a biografia de Luzia Noronha, poetisa e professora, mãe de Lina Noronha, oboísta da Orquestra Sinfônica Municipal de Santos e colega no quadro docente do curso de Licenciatura em Música da Universidade Católica de Santos, tomei conhecimento do envolvimento materno com a poesia de Florbela Espanca.


Foi muito emotiva para mim a percepção de que as minhas escolhas, muito antes de conhecer mãe e filha, tirando do fundo da gaveta uma antiga melodia para destiná-la a um solo de oboé (instrumento de Lina), e ao canto desse texto de Florbela, cujo tema é o vínculo da maternidade, apontavam fortemente para as duas. E me senti intensamente tentado a incluir na partitura uma dedicatória a posteriori para ambas, que na época eu não conhecia. Poderia essa intenção ser interpretada (não sem razão) como um gesto de condolências, mas o que me moveu decididamente foi o sentimento da amizade e o propósito de uma singela homenagem.


Tendo sido compreendido nesse intento, incorporada à partitura, a dedicatória me vale como imaterial presente.


Canção escrita em 2007 para canto, oboé e orquestra de cordas, para a trilha musical do espetáculo A Fundação da Vila de São Vicente, edição 2008, com poema (estrofe) de Florbela Espanca (trecho do poema "Às mães de Portugal").









Interpretação no vídeo: Maria Helena da Silveira (soprano); Oboé - Davi Rosalino de Carvalho; Orquestra de Câmara da Universidade Católica de Santos, regência do Maestro Beto Lopes. Gravação: Estúdio Noname. Técnico de som: Victor Fernandes. Estreia em 2008, na trilha sonora da peça teatral A Fundação da Vila de São Vicente, com direção de Tanah Corrêa e roteiro de Orleyd Faya. Cena da despedida, na partida da expedição de Martim Afonso de Souza rumo ao Brasil (1530).







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