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Zimbo Trio, o percurso musical de um grupo precursor


Zimbo Trio, o percurso musical de um grupo precursor

(publicado no jornal A Tribuna de Santos de 20/02/1983)


Obs. O título acima é o original do articulista. Na imprensa, os editores mudaram para “Zimbo Trio, o caminho musical de um grupo precursor”.

 

A mostra Zimbo Trio Maior Idade vai ser inaugurada terça-feira, às 18h30, na Galeria Antônio Carlos, anexa à agência Gonzaga da APE, Av. Ana Costa, 530. Os três integrantes do grupo estarão presentes à inauguração e no mesmo dia, às 21 horas, apresentarão o show Maior Idade, no Teatro Municipal, em iniciativa da Associação dos Funcionários da Cosipa. Os ingressos custam Cr$ 2 mil e podem ser encontrados na bilheteria do Teatro.

 


Se a música popular brasileira tem hoje, no trabalho de vários grupos instrumentais, uma vertente de alta expressão e crescente receptividade, muito deve ao pioneirismo de conjuntos que, pela qualidade artística e força de comunicação, ganharam e mantiveram o interesse de representativa parcela do público. O Zimbo Trio, de importante atuação na conquista e desenvolvimento dessa linguagem musical, cada vez mais falada e assimilada, figura obrigatoriamente entre eles, dentro da história da MPB .


A sua atividade, daqui a um mês chegando aos 19 anos, teve início num período de transição da nossa música, das construções camerísticas da bossa nova para os grandiloqüentes arranjos que prenunciavam os festivais. Sem se prender a qualquer dessas correntes e a outras que surgiram depois, desde então a equipe vem criando e recriando composições segundo o princípio de explorar potencialidades particulares de cada obra em si, ou seguindo as picadas abertas ao longo dos caminhos que cada autor percorre.


A posição, colocada por um dos integrantes, o baterista Rubens Barsotti, define substancialmente as bases da orientação estética do grupo, que situa em primeiro plano a criatividade e a sensibilidade frente ao material musical. Assim, a interpretação de um samba de João Bosco ou de uma canção de Milton Nascimento procurará ser a conseqüência natural do que pedem cada música e cada autor, seja em termos de improvisação ou de reelaborações formais. A declaração de Barsotti explica, com isso, as incursões do Zimbo Trio pelas variadas experiências de seu percurso musical, conservando-se entretanto coeso e coerente.


Mas esse procedimento, ou melhor, essa atitude diante da realização musical, assume significação mais ampla se considerarmos que veio a se concretizar através do encontro de três músicos de tradições diferenciadas. Hamilton Godói, pianista, tem larga vivência na música erudita; Rubens Barsotti sempre esteve ligado ao meio jazzístico e Luís Chaves, contrabaixista, natural de Belém, traz embutida na sua formação a marca dos cantos folclóricos.


O resultado foi um tipo de música que, sem perder o sabor da terra, incorporou elementos do jazz e da música de concerto numa fusão extremamente compacta, concentrada no então inusitado trio piano-baixo-bateria. Em tese defendida na USP, há alguns anos, o grupo foi apresentado como responsável pela criação de um gênero musical essencialmente americano, que seria a reunião dessas três influências (o erudito, o popular e o folclórico), de forma a produzir algo inteiramente original.

Guardadas as devidas medidas de época e ambiente, é perfeitamente possível  estabelecer paralelos entre a arte de conjuntos instrumentais como Pau Brasil e Grupo Um e o trabalho precursos do Zimbo.


Em algumas composições do Grupo Um, quando a pulsação rítmica se sobressai aos fraseados melódicos e especulações harmônicas pode-se sentir o caráter ritualista e primitivo, por exemplo, da interpretação do Zimbo em Zambi, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, acompanhando Elis Regina.

Interessante, além da comparação musical, é o fato de que recentemente o Zimbo Trio optou por editar seus discos com recursos próprios, fazendo parte assim do rol de produtores independentes ao qual pertencem também os grupos citados. Para isso constituiu o selo CLAM, sigla tirada à organização de ensino musical que fundou há cerca de 10 anos, o Centro Livre de Aprendizagem Musical.


Lançando o seu primeiro álbum independente, Zimbo, em 1978, o trio encetou em seguida uma série, com destaques para artistas convidados. Saírem então Zimbo Convida Sonny Stitt e Zimbo Convida Sebastião Tapajós. O quarto LP, apenas Zimbo Convida, reserva um lado todo para a apresentação de músicos do seu clã.


Mas além disso, o CLAM tem ainda o crédito de dois discos do flautista Carlos Poyares, além de registrar os trabalhos de Cloviz Bonfim e Maurício Einhorn, e o lançamento fonográfico do Trio D´Alma.

NO ano passado, quando o grupo completou 18 anos, a Rádio e Televisão Cultura tomou a iniciativa de promover uma homenagem, montando a exposição Zimbo Trio Maior Idade, que consistia de mostra fotográfica, painéis informativos e um espetáculo com o conjunto.

 

EM SANTOS

 

Agora a exposição vem a Santos, em iniciativa da APE e Galeria de Arte Antonio Carlos, enquanto a Associação dos Funcionários da Cosipa promove show do grupo. A Cidade encabeça assim o atendimento a uma lista crescente de pedidos, que deverá levar a exposição a vários outros municípios. Novos percursos para o Zimbo, num ato de reconhecimento que valoriza merecidamente um trabalho que já faz parte do nosso patrimônio cultural.

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