Em criança e até adolescente, Inês pouco ia ao cinema. Sempre que isso acontecia – quando era possível – degustava cada segundo da experiência de estar na sala escura, as imagens imensas da tela invadindo o ambiente.
Ficou sabendo então, por uma revista especializada – Filmelândia – que Mário Moreno, o Cantinflas, tinha em sua casa uma sala particular para projeção de filmes, exclusiva da família e compartilhada com amigos. Passou a sonhar, fantasiar, uma casa dela com esse ambiente, onde pudesse fazer acontecer e multiplicar aqueles tão raros momentos mágicos.
Quarenta anos depois, o cinema doméstico já era uma realidade acessível à classe média, com o produto home theater. Mesmo sem sofisticação, na sala de visitas do nosso apartamento, ela conseguiu montar a sua sala própria. E, ainda que sem o ritual de ir às salas tradicionais – hábito que evidentemente não foi abandonado – passamos a programar sessões familiares de cinema, aos sábados, domingos, feriados, além de inserir ligeiras sessões extras durante a semana.
Com a mudança para Curitiba, em 2003, a “sala exibidora” foi transferida para um recinto menor, no apartamento com uma visão solitária, às vezes desolada, para o terminal Campina do Siqueira e, mais à frente, o Parque Barigui. A sensação de distância das origens foi minorada depois de pendurar os quadros na parede, os objetos familiares presentificando de algum modo o ambiente aconchegante da sala exibidora do apartamento em Santos. Mas sempre que havia sessão em Curitiba, parece que um significado adicional se incorporava ao recinto: o novo espaço se tornava uma espécie de ligação com a sala original, a poucas quadras do mar. Um link ou, em linguagem cinematográfica, um corte na edição de nossa vivência familiar.
Veio dessas circunstâncias a intenção de escrever uma série de composições musicais baseadas em técnicas, assuntos e formatos extraídos de ou inspirados por filmes. Embora escrita em 2004 a primeira peça, a ideia de Temas de Cinema surgiu ainda em Curitiba, em fins de 2003, quando já estava decidida a volta a Santos. Não seriam composições sobre trilhas sonoras ou canções de filmes. Não era uma ideia sobre a música de cinema, mas de música gerada a partir do cinema. Uma composição baseada em determinado filme poderia não ter nada a ver com a trilha desse filme, e sim com algum detalhe da narrativa cinematográfica, ou do conteúdo da história. O que não eliminaria a possibilidade de escrever uma composição a partir da música de um determinado filme. Os Temas de Cinema não seriam temas musicais, exclusivamente. Poderiam ser temas de situações, de enredos, de recursos técnicos, de estilos artísticos, da fotografia, do cenário, do figurino, de um personagem, de um tipo de personagem, de gênero, de local.
Até o momento a série reúne as seguintes composições:
Antessala dos Temas de Cinema - Twentieth Century Fox-trot
Temas de Cinema n. 1 – Música Paradiso: o Beijo Colado
Temas de Cinema n. 2 – Somewhere in Time Else (ou Elsewhere in Time)
Temas de Cinema n. 3 – O Turista Incidental
Temas de Cinema n. 4 – Suíte Chanchada
Temas de Cinema n. 5 – Glauber Roxy
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