No dia primeiro de dezembro de 1997, participei, a convite do diretor teatral Tanah Corrêa e por sugestão do ator Sérgio Guerreiro, de uma reunião para tomar conhecimento do projeto da encenação A Chegada de Martim Afonso, título com que foi denominada a peça, na edição (16a.) que seria levada em janeiro de 1998, nas areais da praia do Gonzaguinha, em São Vicente, em frente à praça da biquinha.
Avaliei o exíguo tempo de que dispunha para compor a trilha, e propus, como solução prática e mais sensata diante das condições, a montagem de uma trilha com música adicional (composições de terceiros, já registradas em disco, com os produtores se responsabilizando pelos custos com direitos autorais). Para criar um vínculo autoral na trilha, mínimo que fosse, eu me dispus à tentativa de compor um ou dois momentos musicais com textos mais diretamente ligados ao roteiro.
Minha referência principal para isso foi que a proposta da direção era uma encenação permeada por um clima de cultura popular. Não lembro com exatidão as palavras, mas o diretor de coreografia, Renato di Renzo, usou na época uma expressão que associo à ideia de ópera-pop, ópera-rock ou algo do gênero (alguns anos depois, Tanah Corrêa intitularia um evento semelhante como ópera-samba).
Imaginei, então, para um desses momentos, que seria no início do espetáculo, um Samba de Camões, com o texto da última estância do Canto I de Os Lusíadas, que Orleyd Faya inseriu no roteiro. Como o elenco contava com um ator português, que não tinha um papel histórico na peça, o diretor preferiu destinar o texto de Camões para uma leitura dramática, aproveitando o sotaque do ator.
Para um segundo momento, finalizando o espetáculo, criei um sambão com a letra resumindo elementos principais da trama histórica, que escrevi baseado no roteiro. Resultou daí o samba Início da Vila (Samba da Fundação da Vila de São Vicente). Tanah Corrêa tentou mobilizar a Escola de Samba X-9, de Santos (agremiação de sua convivência e participação), para a realização ao vivo da composição. Chegaram a ser feitos alguns ensaios, mas a proximidade do Carnaval criou problemas com a agenda da preparação para o desfile das escolas de samba.
Assim, ambas as composições acabaram ficando de fora da trilha musical. Mas, dez anos depois, convidado a dirigir mais uma vez a encenação, Tanah Corrêa manifestou o desejo de resgatar as composições. Início da Vila estreou assim em 2008, foi mantida como uma espécie de vinheta de encerramento em 2009, e também em 2016.
A seguir, a gravação de 2008 e, mais adiante, um registro doméstico, precário e parcial, de um ensaio por integrantes da Escola de Samba X-9.
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