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História da Música Independente


Livro publicado em 1988 pela Editora Brasiliense (Coleção Tudo é História n. 124).


Aborda principalmente o período em que a produção musical independente começou a se afirmar no Brasil, no período entre meados das décadas de 1970 e 1980.


A pesquisa foi retomada em meados da década de 1990, incorporando conteúdos não incluídos naquela publicação. Além dessa ampliação de materiais (depoimentos, imagens, ilustrações, análises), buscou uma atualização de elementos conceituais e fáticos surgidos a partir dos novos contextos tecnológicos e mercadológicos.


O relato a seguir fala sobre as circunstâncias que levaram à escrita do livro, bem como às expectativas e decisões do autor sobre a pesquisa:


DE HISTÓRIA DA MÚSICA INDEPENDENTE A VIAS E CENAS ALTERNATIVAS DA MÚSICA AUTORAL


O momento que considero ter despertado meu interesse em refletir sobre a produção musical independente veio com o gesto de Ciça (Cecília) Tuccori, que, no início dos anos de 1980, fazia parte do grupo de músicos convidados para um concerto do Madrigal Ars Viva.


Um dia, num dos ensaios, ela me mostrou os dois discos iniciais do RUMO, banda da qual era integrante. O trabalho do grupo me interessou muito, pela afinidade com o gosto de estreitar relações entre música e texto.


Na época, eu estava muito focado nas composições que praticávamos no Ars Viva, e não acompanhava com proximidade o movimento independente. Aquele gesto da Ciça me fez voltar o olhar e o ouvido para o que compositores e grupos vinham fazendo, nas mais variadas frentes de criação: o experimentalismo do Arrigo, a prosódia do Itamar, o humor sonoro do Premê e o sarro do Língua de Trapo, para citar alguns.


Coincidiu que, em 1981, eu comecei a produzir e apresentar, junto com um pessoal recém habilitado em rádio, três programas em duas estações aqui da cidade. E passei a transmitir as músicas dos grupos de São Paulo, e também dos músicos locais. Na época, comecei também a escrever crítica musical para o jornal A Tribuna, principalmente sobre música independente.


Lá pela metade da década de 1980, resolvi organizar esses textos, e enviei para a Editora Brasiliense, para saber da viabilidade de publicação na coleção Primeiros Passos. Minha intenção era destacar, refletir sobre as questões conceituais. O título proposto seria, conforme padrão da coleção, O Que É Música Independente. A proposta foi aceita, começaram as tratativas, o processo editorial etc.


Num dado momento, acho que o conselho editorial julgou mais adequado que o livro saísse pela coleção Tudo É História. Comecei a sentir os limites da independência autoral. Sem pretender contestar a decisão editorial, aceitei, fazendo ligeira alteração no início do primeiro capítulo, mudando o foco de conceitual para histórico. Mas ficou, evidentemente, um ressaibo de insatisfação.


A CONTINUIDADE DA PESQUISA


Lá pela metade dos anos 1990, resolvi continuar a pesquisa. Ressoava ainda na memória uma observação de Roberto Martins, compositor e maestro regente do Madrigal Ars Viva, que, ao ler o livro, comentou que seria importante levar adiante a pesquisa, tema que um livreto daquele porte gráfico não comportava.


Essa observação veio como um desafio. Mas também senti como oportunidade para refletir melhor sobre os questionamentos conceituais, que constituíam o cerne da minha intenção. Então, me coloquei a tarefa de ampliar o conteúdo original, com depoimentos, imagens e ilustrações que não entraram no livreto. E, além dessa ampliação, a tarefa de atualizar os conceitos, em função de novidades tecnológicas e mercadológicas, e de novos padrões e mudanças no ambiente musical e cultural.


Para guiar essas linhas de trabalho, decidi seguir questionando alguns aspectos específicos nos âmbitos conceitual e fático da pesquisa.


No questionamento conceitual, onde imperavam os termos "independente", "alternativo", "marginal", "nanico" e "underground", resolvi aprofundar os diversos interesses em jogo: do autor, do produtor/distribuidor, do público, e da sociedade como um todo. Aos poucos, fui sentindo que o termo "alternativo" era mais afim ao conceito que me fazia melhor sentido desse cenário. Algo que, numa entrevista coletiva realizada em 1982 no Lira Paulistana, Tiago Araripe defendia enfaticamente.


Para rastrear as novas produções musicais independentes, resolvi buscar fontes fora do circuito dominante de divulgação: grande mídia, publicações especializadas. Com as novas facilidades tecnológicas de produção e a emergência das redes sociais, publicações próprias dos autores, em blogs e redes sociais, passaram a ser lugares para coleta de dados.


O pressuposto implícito nesses critérios era evitar uma filtragem prévia a partir de vieses e padrões mercadológicos e estéticos dominantes ou estabelecidos. Não se fixar em indicadores de importância ou qualidade que são fixados com base na realidade dos setores dominantes.


Por exemplo, o indicador de pioneirismo, correspondendo a um primeiro histórico, numa situação ilustrativa como um escritor que tenha desenvolvido um estilo de narrativa ainda não catalogada? Mas, como saber que antes dele ninguém havia desenvolvido tal estilo? A referência passa a ser um livro, por uma publicação de uma editora institucional, com ampla divulgação. O que elimina a possibilidade de alguém já haver desenvolvido tal estilo, escrevendo em folhas de papel, ou numa edição artesanal. Conjeturas nada incabíveis, haja vista a recente constituição de um Museu do Livro Esquecido, que se estende a publicações apócrifas.


Para caracterizar essa mudança de foco em relação a História da Música Independente, o trabalho em andamento foi intitulado VIAS E CENAS ALTERNATIVAS DA MÚSICA BRASILEIRA AUTORAL.








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