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Ficção-Científica

Ficção e não facção-científica.

Conceituada pelo escritor Isaac Asimov como "ficção de segundo grau", essa literatura de antecipação, como é muitas vezes referida, é muito mais famosa como gênero cinematográfico. E nesse campo, outro escritor, Brian Aldiss chegou a apontar O Ano Passado em Marienbad, clássico da nouvelle vague, como filme de ficção-científica.















As percepções mais disseminadas do gênero da ficção-científica remetem quase sempre a ambientes espaciais, seres alienígenas, artefatos de navegação sideral, mundos paralelos, paradoxos do tempo, entre outros temas. Tudo isso inserido em contexto de histórias de ação e aventura, com guerras interplanetárias. Tendo essa imagem geral como referência, seria despropositado afirmar que quase a totalidade das Obras que tenho criado pode ser enquadrada nesse gênero. 



Mas, é uma afirmação que teimo em sustentar. Não que todas as Obras tenham a ficção-científica como referência imediata e evidente. Para muitas delas, parecerá até insano qualquer exercício taxonômico nesse sentido. Nesses casos, o afastamento estratégico de uma Obra particular, que permita localizá-lo em outros contextos, exibirá algum traço de pertencimento a esse universo.  De qualquer modo, para não causar desconfortos iniciais, relaciono ao final apenas as Obras cujo relação com o gênero é evidente à primeira vista.  


O gênero sempre me atraiu. E, ao mesmo tempo, sempre me causou insatisfações. Frustrações até. O Assento SEGUNDA MÃO, SEGUNDO GRAU, em Cantos Correntes, pode oferecer uma ideia de como percebo a ficção-científica,

Obras ALIENS ELSEWHERE IN TIME (SOMEWHERE IN TIME ELSE) O ENGENHO O FAROL DO ENGENHO MUNDOS MARGINAIS DA FICÇÃO-CIENTÍFICA NO OLVIDO DO TEMPO / NO OUVIDO DO TEMPO TEMAS DE CINEMA N. 2


SEGUNDA MÃO, SEGUNDO GRAU


Tu pode até dizer que do gênero tu lê, ouve ou vê qualquer coisa. Até os autores e histórias de segunda mão. Provam os livros e as coleções nas estantes, amontoadas e díspares, sem qualquer critério aparente de qualidade. Se é que isso tem sentido. Mas por quê? Em nome de quê? O que te interessa, no fundo? O segundo grau da ficção.

Primeira parte, a segunda mão, cuja impressão digital se detecta a olho nu na contradição entre a trama da história e o modelo da narrativa. A textura do futuro costurada pela prosa do passado.


O que importa é a antecipação, defendem. Argumento replicante, mas não convincente. No balanço, permanece o contraditório como grande marca. Por um lado, o gênero como filão inesgotável de negócios. Livros, quadrinhos em tiras e revistas, filmes e animações, jogos e roupas de fantasia. Tão significativo que, após vários filmes de sucesso em fins dos anos 60 e início dos 70, como 2001 (que trouxe prestígio) e Planeta dos Macacos (que gerou continuações), até o mercado editorial brasileiro fez sua aposta mercadológica no gênero promissor. Uma dessas iniciativas foi o Magazine de Ficção-Científica, que durou apenas 20 edições, de abril de 1970 até novembro de 1971. A revista publicava nomes novos mas principalmente consagrados, como Isaac Asimov, Ray Bradbury, Harry Harrison, Robert Schekley, Philip K. Dick, Brian W. Aldiss. E sempre fechava com um conto de escritor brasileiro de ficção-científica, como Luciano Rodrigues, na edição de número 10.


Então tu chega à segunda parte. Um segundo degrau. Um passo além do mundo que dizemos real. É assim que tu vê a ficção-científica, uma ficção de segundo grau. Uma plataforma de mundo, sobre o qual se desenrolam histórias de todo gênero. A partir dessa plataforma, como em toda e qualquer literatura, são contadas histórias de ação, de suspense, terror, amor, comédia, mistério e vários outros gêneros. Só que são histórias passadas em um universo ou contexto de realidade ainda não descoberto ou constatado, que serve de ambiente para o desenvolvimento de situações e narrativas dramáticas, épicas, religiosas, cômicas ou líricas. A imaginação de uma plataforma de mundo sobre a qual se desenrola a imaginação de seres e fatos compatíveis com essa nova realidade.


E aí reside a grande contradição. Enquanto a criação ficcional nos leva a expandir progressivamente os limites e a mudar a própria natureza do ambiente em que acontecem as histórias de ficção-científica, por tal motivo denominada literatura de antecipação, não ocorre uma correspondente e possível expansão das fronteiras literárias do gênero, que fica restrito aos modelos narrativos tradicionais.

Mas, por outro lado, a edição número 10 do Magazine de Ficção-Científica trouxe o conto TLÖN, UQBAR, ORBIS TERTIUS, do escritor argentino Jorge Luís Borges, já destacado na capa, e tu vê aí como a segunda mão encontra o segundo grau. Primeiro, porque insere em um circuito literário considerado de segunda mão um texto artístico, de alta qualidade literária. Literatura fantástica, talvez, mais do que de ficção-científica. Mas, onde está o limite? Talvez no mesmo ponto em que a magia faz fronteira com a ciência, o ponto em que o sobrenatural ainda não foi costurado pelo conhecimento científico.


E então tu vê surgir o segundo grau na exploração por Borges de um dos temas mais comuns da ficção-científica, a multiplicidade de mundos, seja no universo dito real, que podemos mapear pela observação astronômica, como naqueles alternativos ou paralelos que a especulação científica nos permite imaginar. Cruza no conto do escritor argentino essa expansão de mundos prováveis, possíveis ou incríveis, com fontes literárias não usualmente associadas ao gênero.


Assim, tu pensa a ficção-científica como algo que vai além dos limites do gênero narrativo denominado Ficção-Científica. E por aí tu te aventura, enredando tramas de mundos alternativos com fios verbais, musicais, visuais e ambientais.


Fiação, viação, em algumas infiovias do pensamento, como ALIENS, ELSEWHERE IN TIME (SOMEWHERE IN TIME ELSE), O ENGENHO, O FAROL DO ENGENHO, MUNDOS MARGINAIS DA FICÇÃO-CIENTÍFICA, NO OLVIDO DO TEMPO / NO OUVIDO DO TEMPO, TEMAS DE CINEMA N. 2 e o universo por aí afora.

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