Nos livros contábeis da alfaiataria Domínio do Fato, os auditores Nihil Ultra e Audite Nova concentram-se em registros com fortes indícios de constituírem chave especial da misteriosa criptografia do jogo da velha.
Indícios que parecem levar à elucidação de um aspecto importante das condições em que ocorrem as transferências de vultos. Algo que desafia a sua compreensão, quando ouvem os kyneaztaz e os kryptykoz falarem sobre as inexcursões dos protonautas espectrais pelas realidades perceptuais do universo.
Aspecto que é uma das questões mais problemáticas: as dificuldades impostas pelo tempo e pelo espaço aos viajores, face à reduzida escala da condição humana no espaço-tempo.
Os auditores traçam e percorrem então um roteiro de verificações e análises que passa pelos assentos a seguir:
Os auditores encontram uma espécie de metáfora relacionada ao mistério e à possibilidade de viagens no tempo.
Diante das imagens, do áudio e do texto que os auditores encontram no registro do livro de Contas Correntes, resolvem investigar e se aprofundar na referência feita a um provável livro do autor Clifford Simak. Nihil comenta com Audite:
- Localizei a referência. Clifford D. Simak, autor da ficção-científica clássica estadunidense. O livro, TIME IS THE SIMPLEST THING (O Tempo É A Coisa Mais Simples). Em tradução portuguesa, número 131 da Colecção Argonauta da Edição Livros do Brasil, Lisboa, com o título de VIAJANTES DO TEMPO. No brevíssimo capítulo primeiro, ele escreve:
"Por fim, chegou o momento em que o Homem se convenceu de que não podia dominar o Espaço. Suspeitara-o no dia em que haviam sido descobertas as cinturas de Van Allen. Mas o Homem sonhara por tanto tempo que nem mesmo em face disso podia esquecer o sonho sem desafiar o destino.
Portanto, meteu-se a caminho - e não quis recuar, mesmo depois de a morte dos astronautas ter provado que não podia avançar. O Homem era muito frágil. Morria muito facilmente no Espaço.
Por fim, o Homem convenceu-se de que o sonho falhara e sentiu amargura e desilusão ao olhar para as estrelas, porque elas estavam mais longe do que nunca.
Ao fim de muitos anos, depois de cem milhões de desgostos, o Homem desistiu, finalmente.
E ainda bem que o fez.
Porque havia um caminho melhor."
O caminho era o que se convencionou chamar Cinética Paranormal. Uma denominação da época para algo que já se conhecia há tempos, sob nomes como "percepção extrassensorial" ou "psiônica", esta referida também como "psi".
"Mas antes de tudo isso, fora magia", reflete a personagem central da novela de Simak. Até que o método científico tornara possível ao Homem compreender as forças da energia mental sem a contaminação das crenças místicas e religiosas. E entender o real significado da expressão "troco meu espírito pelo teu". Palavras que não ouvira. Palavras que surgiram, emergiram, diretamente no seu cérebro, numa detecção à maneira da "simples e antiquada arte telepática". Que o fizera sentir-se um ser duplo, como se abrigasse em si outra criatura, vendo, sentindo, sabendo o que ela via, sentia, sabia.
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