Álbum de composições que variam, parafraseiam, citam ou transcrevem trechos de peças alheias.
Cesse tudo o que a musa antiga canta
Que outro valor mais alto se alevanta.
(Luiz Vaz de Camões,
em Os Lusíadas,
final da terceira estrofe do Canto Primeiro)
As palavras de Camões sugerem que se curvem as glórias do passado perante os feitos do povo lusitano que o poeta passa a narrar. Esse valor que mais alto se alevanta é definido pela história e pela cultura, por atos de ousadia e tenacidade, entre outros, que desvendam realidades além do horizonte, visual e mental.
Na realidade atual, a cultura é que parece se curvar perante um valor mais alto, medido em unidades monetárias e suas estratégias de preservação de poder. Assim, a troca milenar de ideias e conhecimentos, na arte e na ciência, que sempre favoreceu o desenvolvimento intelectual e material da humanidade, é cercada (ou cerceada) pela proteção (ou domínio) dos interesses econômicos, que instauram uma espécie de tabula rasa como condição inicial da criação, invocando plágio e outras figuras que implicam apropriação indébita a propósito de mínimas semelhanças ou citações.
A referência bibliográfica acima cumpre nesse contexto, e não sem certa ironia, com o respeito aos direitos morais do autor, conquanto o título do álbum constitua uma variação dos versos do poeta luso. E, considerando que Camões faleceu no final do século XVI (10/06/1580, data que virou efeméride da comunidade portuguesa), ainda que se julgue não substantivo o uso da referência como particularidade diferencial, o título não fere os direitos patrimoniais do autor, dada a sua caducidade legal.
O título do álbum aponta assim para uma precaução de ordem jurídica. Tendo em vista a possibilidade de que as peças integrantes do álbum venham a ser objeto de ações legais sob acusação de plágio, tais obras só serão liberadas para interpretação pública, ou exibição pública mediante registro sonoro, a partir do ano indicado à frente dos respectivos títulos, na relação a seguir.
Como a legislação do direito patrimonial do autor define que uma obra artística chega ao domínio público somente após um período de 70 anos contados do ano da morte do autor, o ano indicado à frente de cada composição é o que determina essa condição, com base no ano de falecimento do autor (se único), ou do último autor a falecer (se co-autor). Em caso de autor vivo, não há indicação de ano, e em caso de autoria desconhecida, presume-se 140 anos após o ano da composição (70 anos em vida, mais 70 anos a partir de suposto término de vida).
Como o subtítulo do álbum sugere (Legado para a Posteridade Legal), trata-se de uma produção artística escrita como oferta cultural direcionada à sociedade num futuro não muito distante. Até que o último entrave jurídico libere a última peça remanescente deste álbum, que então deixará de existir. Ao se tomar essa cautela, algumas composições já haviam sido apresentadas em público, e feitos (não de todas) registros sonoros domésticos.
2025 - Solilóquio (Charles Ives, 1954)
2027 - Campo de Estrelas (Victor Young, 1956)
2030 - Glauber Roxy (Heitor Villa-Lobos, 1959)
2034 - O Jardim Das Confidências (Ribeiro Couto, 1963)
2035 - Eu Guardo Dentro de Mim (Cole Porter, 1964)
2052 - Serenata Atroz (Harry Warren, 1981)
2062 - Canção de Antiversário (Diésis dos Anjos Gaia, 1991)
2065 - Canção do Exílio Sem Palavras (Antônio Carlos Jobim, 1994)
2065 - Canção do Exílio (Quase) Sem Palavras (Antônio Carlos Jobim, 1994)
2065 - Duas Vezes Três Canções Fora de Tom (Antônio Carlos Jobim, 1994)
2065 - Eu Sou De Amar Tão Fácil Assim (Jule Styne, 1994)
2065 - Newton e a Maçã de Eva (Antônio Carlos Jobim, 1994)
2069 - Cantei a Olhar as Reclames (Sylvio Caldas, 1998) - sem informação sobre a identificação e data de falecimento dos compositores dos jingles (Creme Rugol, por Gilberto Martins, lançado em 1951; e, sem precisão dos autores, Creme Dental Colgate e Pílulas de Vida do Doutor Ross, lançados na mesma década ou anterior)
2078 - De Brincos Dourados (Ray Evans, 2007)
2081 - Cantos das 1001 Notas (Johnny Alf, 2010)
2082 - Diz Que Tem (sendo desconhecido o ano de falecimento de Aníbal Cruz, toma-se como base o ano da composição, 1941. O outro autor, Vicente Paiva, morre em 1964).
2104 - Pasodoble (autor desconhecido, ano suposto da composição, 1963)
2104 - Suíte Chanchada (autor desconhecido, ano suposto da composição, 1963)
2145 - Musica Paradiso: o Beijo Colado (como são muitos os autores com obras citadas nesta composição, e sem certeza quanto à ocorrência de passamentos, foi tomada como base o ano da composição - 2004 - para o período presumido de 140 anos, conforme critério já especificado).
2146 - O Turista Incidental (como são muitos os autores com obras citadas nesta composição, e sem certeza quanto à ocorrência de passamentos, foi tomada como base o ano da composição - 2005 - , para o período presumido de 140 anos, conforme critério já especificado).
2156 - Trem de Pouso (como são muitos os autores com obras citadas nesta composição, e sem certeza quanto à ocorrência de passamentos, foi tomada como base o ano da composição - 2015 - , para o período presumido de 140 anos, conforme critério já especificado).
Comments