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Acróstico para Guido d´Arezzo


ACRÓSTICO PARA GUIDO D'AREZZO (1981)

poemas: Diácono Paulo e Gil Nuno Vaz

coro misto a cappella

estreia: Madrigal Ars Viva (reg. Roberto Martins) Santos, 13/08/88 (auditório do Sindicato do Comércio Varejista de Santos)







Acróstico é a denominação que se dá ao texto poético em que a leitura em sequência vertical das primeiras letras (ou sílabas) de cada verso forma uma palavra, uma expressão ou uma frase geralmente não contida no poema, mas que o complementa ou suscita novos significados.


O conceito de acróstico pode ser aplicado ao texto do medieval Hino a São João, cujas primeiras sílabas lidas em sequência vertical formam as denominações das notas musicais da escala natural.


Ut queant laxis

Resonare fibris

Mira gestorum

Famuli tuorum

Solve poluti

Labii reatum

Sancte Johannes.


Particularidades como o fato de que a palavra Ut foi substituída mais tarde, na maioria das culturas ocidentais, pela sílaba Dó (da palavra Domine) e de que a nota Si obedece a outro critério (junção das primeiras letras das duas palavras do último verso) não elidem a caracterização do caso como acróstico.


Mas certamente, e não por tais particularidades, é um caso especial de acróstico. Isso porque o uso que o monge Guido d´Arezzo fez, no século X, desse hino, de autoria atribuída a um diácono do século IV, que se tornou referência na história da música ocidental, não levava a outro termo, expressão ou frase, mas a algo que ainda não existia, a algo que estava sendo criado, ou proposto: uma denominação às notas musicais. Ou seja, o conceito de acróstico aí é aplicável a posteriori, após a formação e consolidação do significado do termo derivado.


Acróstico para Guido d´Arezzo, escrita em 1981, foi criada tendo em mira essas circunstâncias, e buscando trabalhar com o sentido expandido do conceito, tanto no texto poético como na composição musical.


No texto, a busca resultou na construção, em língua portuguesa, de um sentido aproximado ao teor do hino, em que cada verso apresentasse o mesmo jogo de referência às notas musicais, incluindo a permuta do Ut pelo Dó, e a junção de duas palavras para gerar o Si. O resultado foi esse:





O acróstico musical, ou seja, a aplicação do conceito literário no campo musical, envolveu buscar a geração de novos sentidos recriando o hino original em outras realidades musicais.


A primeira recriação se dá na própria contemporaneidade de sua origem: o mundo modal da música medieval. Experimentar como o hino que nomeia todas as notas (que por sua vez originam os modos antigos) e que é escrito no modo de Ré (modo dórico, na terminologia grega), soaria se cantado, cada verso (ou linha melódica) no modo respectivo de sua nota.


Assim, logo após a apresentação do hino original, segue-se o acróstico medieval em que cada frase melódica é cantada na altura do modo nomeado em seu verso: começa com a primeira frase no modo jônio, a segunda no dórico (exatamente igual ao do hino original), a terceira no frígio, e assim por diante, no lídio, no mixolídio, no eólio e no lócrio.


A segunda recriação (que fecha a composição como numa antífona do hino original, frase a frase) é a mesma da primeira, só que mantendo a tessitura (registro) das frases melódicas do hino original, pelo artifício da transposição, que é procedimento característico da música tonal.




A gravação de Acróstico para Guido d´Arezzo é extraída do disco Música Nova para Vozes, do Madrigal Ars Viva, com regência do Maestro Roberto Martins, produzido em 2000.


A estreia da peça se deu pelo mesmo grupo coral, regido por Roberto Martins, em 13 de agosto de 1988, no auditório do Sindicato do Comércio Varejista de Santos.







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